quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Dono do Estado Livre do Congo, Leopoldo II, da Bélgica, inaugurou a temporada de exploração do continente africano


Selo de postagem do Congo Belga, um objeto que, sozinho,
sintetiza o anacronismo da “civilização” da África pelos europeus.

O escritor argentino Jorge Luís Borges definiu o livro Coração das trevas, do britânico de origem polonesa Joseph Conrad, como “o mais intenso de todos os relatos que a imaginação humana jamais concebeu”. Opinião inequívoca expressa de um autor que, sabidamente, usou a imaginação de forma prodigiosa (e sabia da ausência de fronteira desta) para criar mundos e situações literárias nos seus contos.

Por conta do trabalho na marinha mercante francesa, e depois britânica, Conrad relata naquela obra o que presenciou do imperialismo nascente das nações européias na segunda metade do século XIX, na África, pelos olhos de Marlow, que trabalha para uma companhia num vapor em um “grande rio”, onde a lua espalhava “na superfície de todas as coisas uma fina camada prateada — sobre a mata densa, sobre o lodo, sobre o muro de vegetação entrelaçada, mais alto que as paredes de um templo”, e para quem esse cenário, silencioso, levantava uma dúvida: “A quietude na face da imensidão que olhava para nós significava um apelo ou uma ameaça”. Neste caso, a resposta poderia ser dupla e estridente, porque, na realidade, tratava-se do Estado Livre do Congo, empreendimento localizado no centro-sul do continente africano, oficialmente caracterizado de filantrópico-humanitário-científico-civilizatório, capitaneado pelo monarca belga Leopoldo II.


Moeda comemorativa dos 175 anos da dinastia
real belga. Vê-se a efígie de Leopoldo II,
a inscrição “Leopoldus” e a data de 2007.

A historiografia aponta a administração dele como a mais cruel e barbárica, embora escassamente lembrada quando o assunto é neo-imperialismo europeu, sendo considerada o primeiro golpe de facão para a “partilha da África”, isto é, a criação de colônias e protetorados por toda a extensão daquele continente pelas potências da Inglaterra e França, principalmente, além de Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. Os métodos pouco ortodoxos e iluminados usados pelos prepostos do rei contra a população local levariam o monarca hoje para o tribunal como um criminoso, a parear com facínoras como Stálin e Hitler. O repertório incluía corte das mãos, dedos, narizes e assassínios sem motivo, pelo não cumprimento de cotas determinadas de extração de borracha, por exemplo.

Os motivos para o imperialismo podem ser vistos sob prismas diferentes, mas as cores são sempre sombrias

POTENCIAL ECONÔMICO E RELIGIOSO

De olho nos recursos naturais de um território que compreendia dezenas de vezes o tamanho da Bélgica, cujo centro atravessa um rio que só perde em extensão para o Amazonas, Leopoldo II, considerado pelo jornalista e agente Henry Morton Stanley, que seria a ponta da lança do belga nessa empreitada, como um “esperto estadista”, “supremamente esperto”, usou das suas credenciais reais e articulação política para adquirir, sem nunca ter pisado no local, uma colônia para si, particular. Realizou, assim, o sonho do pai, Leopoldo I, e contrariou o conto de Borges em que a personagem principal vai ao encontro do seu tesouro alhures, após um sonho, leva uma surra, volta para casa e desenterra o sonho no quintal de casa.

Os motivos para o imperialismo podem ser vistos sob prismas diferentes. Mas, de qualquer maneira, as cores são, quase sempre, sombrias. O fardo do homem branco, de levar a luz da cultura e razão ocidental e européia aos povos, segundo a visão deles, primitivos. O interesse econômico e comercial, entretanto, é interdito no discurso polido dos homens da política e negócios dos países que participaram do empreendimento intercontinental. A expansão do mercado consumidor para os produtos industrializados da Europa, que passava, naquele momento, a partir das décadas de 1860 e 1870, por uma recessão sazonal; concentração populacional provocada pelo êxodo rural e nascimento das grandes metrópoles modernas; e, finalmente, busca de matéria-prima e mão-de-obra barata para a indústria.


Ilustração do encontro entre Henry Morton Stanley e David Livingstone.
Este último comandou expedições para a Coroa inglesa e para sociedades
geográficas. O encontro estimulou os interesses exploradores de ambos.

Mas, antes do surto imperialista, missionários percorreram regiões do continente africano para catequizar os habitantes locais e denunciar o terror e destruição que o comércio de escravos provocava; isso com a Bíblia numa mão e a civilização na outra. O inglês David Livingstone foi um deles. Abriu caminho para o interior do continente, via Zambezi, importante rio localizado na África meridional, que deságua no oceano Índico, em Moçambique, escreveu diários relatando o dia-a-dia de suas viagens. Comandou também expedições em benefício da Coroa inglesa e para sociedades geográficas; era conhecido na Europa e Estados Unidos e, em 1871, pouco se ouvia falar dele. O jornal New York Herald, por esse motivo, resolve enviar o jornalista Henry Morton Stanley com a missão de encontrá-lo, que, embora estivesse com a saúde debilitada, continuava a desvendar o continente, principalmente a região dos Grandes Lagos, no leste do Congo. O encontro ocorreu em novembro daquele ano, em Ujiji, perto do lago Tanganica, e reforçou em ambos o interesse pela exploração do continente.


O missionário David Livingstone desvendou o continente
mesmo com saúde débil. A Sociedade Real Geográfica Britânica
chegou a enviar expedição em seu auxílio, mas, quando esta
chegou, Livingstone já estava morto e seu corpo na Inglaterra.

Temendo pela piora de saúde do missionário, a Sociedade Real Geográfica Britânica (Royal Geographical Society) envia uma coluna de auxílio sob a liderança do oficial naval (que trabalhara para o esquadrão antiescravidão) Verney Lovett Cameron. A expedição foi denominada The Livingstone East Coast Expedition, chegou em Ujiji em fevereiro de 1874, mas tarde demais, pois o corpo embalsamado dele, morto um ano antes, já estava na Inglaterra. Segundo o jornalista inglês John Reader, no livro Africa — a biography of the continent (“África, biografia de um continente”), ainda não publicado no Brasil, Cameron foi o primeiro homem a atravessar o continente, partindo do Índico, em março de 1873, até o Atlântico, em Benguela, atual Angola, em novembro de 1875. Chegou a fazer acordos com as lideranças locais e, por força destes, declarou um protetorado britânico sob a bacia do Congo em 28 de dezembro de 1874, a ser aprovado pelo Foreign Office (Ministério de Relações Exteriores inglês). A diplomacia britânica não aceitou a proclamação do Congo como seu protetorado, atendendo a interesses portugueses na região, em troca de acordos de comércio e combate à escravidão, já que o primeiro europeu a fazer contato com os autóctones, de acordo com relatos históricos, foi o navegador português de Vila Real, Diogo Cão, em 1483. Ele estabeleceu relações com o Reino do Congo em nome da Coroa portuguesa e interesses mercantilistas da Península Ibérica.

UMA OPORTUNIDADE IMPERDÍVEL

A experiência do oficial foi relatada em cartas, encaminhadas para a Sociedade Real, cujo presidente, Sir Henry Rawlinson, divulgou para o público na noite de 10 de janeiro de 1876.


Foto de Sir Henry Creswicke Rawlinson, presidente da Sociedade
Real, que divulgou as cartas de Livingstone anunciando o
potencial do continente: “Uma grande empresa teria a África
aberta por volta de três anos, se trabalhasse de forma adequada”.

No dia seguinte, Leopoldo II, no seu palácio, leu trechos dos relatos na edição do dia posterior do Th e Times, que recebia todos os dias: “[...] o interior é em grande parte um magnífico e rico país de uma riqueza intraduzível. Eu tenho um pequeno montante de bom carvão; outros minerais, como ouro, cobre, ferro e prata, são abundantes; e estou confiante que com uma sábia e liberal (não generosa) despesa de capital, um dos maiores sistemas de navegação interior do mundo pode ser utilizado e, de 30 até 35 meses, começar a repagar qualquer capitalista empreendedor que poderia gostar de ter de volta (...) noz-moscada, café, semsem [sesame seed], amendoim, olho de palmeira, arroz, trigo, algodão; toda a produção do sul da Europa, borracha da Índia, copal e cana-de-açúcar são as produções de vegetais que podem ser lucrativas. Um canal de 20 até 30 milhas por toda a região baixa do país poderia conectar os dois grandes sistemas do Congo e do Zambezi, as águas da chuva podem até formar uma ligação entre eles. Com um capital de 1 até 2 milhões de libras para começar, uma grande empresa iria ter a África aberta por volta de três anos, se trabalhar de forma adequada”.


Foto de Leopoldo II, da Bélgica. Descrito como um estadista
“supremamente esperto”, usou suas credenciais para adquirir
uma colônia particular, sem nunca ter pisado no local.

O monarca belga se anima, vai até Londres logo depois, conversa com Cameron e demonstra a sua intenção de tocar o projeto. Resolve, então, em setembro de 1876, organizar a Conferência Geográfica de Bruxelas, que conta com a presença de representantes das principais potências, além de missionários, homens de negócios e geógrafos. No discurso de abertura do evento, realizado com muito luxo no palácio real, em setembro de 1876, Leopoldo expõe, disfarçado de sentimento altruísta, a sanha pelos negócios que poderiam originar daquela reunião: “Senhores, o assunto que reúne todos nós hoje é daqueles que merecem receber um lugar de destaque e engajamento de atenção dos amigos da humanidade. Abrir para a civilização a única parte do globo que ela ainda não penetrou, atravessar a escuridão na qual populações inteiras estão envolvidas, é, ouso dizer, uma cruzada digna desta era de progresso, e estou feliz de perceber quanto o sentimento do público está a favor dessa realização; a maré está conosco. Preciso dizer que, em receber vocês aqui, em Bruxelas, não fui acometido por visões egoístas. Não, senhores, se a Bélgica é pequena, ela é feliz e se contenta bastante com ela. Não tenho outra ambição do que servi-la bem. [Mas] devo estar feliz que Bruxelas se torne, de alguma maneira, o quartelgeneral deste movimento civilizatório. Alimentei a idéia de que poderia ser de sua conveniência vir até aqui e debater, e, com a autoridade que vocês têm, em conjunto, decidir as vias a seguir e meios para definitivamente plantar o padrão de civilização no solo da África Central”.


Foto de uma parada do Chefe Makoko em Brazzaville, com uma
tribo no Congo Francês (bandeira francesa ao fundo); embora pouco
lembrada, a administração de Leopoldo II foi o primeiro golpe de
facão do imperialismo na África, que iniciou com França e Inglaterra.


Cada delegação levou ao seu país as novidades da conferência e comitês foram estabelecidos para arrecadar fundos para essa cruzada humanitária. Por conta do impedimento legal que tal ação poderia implicar, na Inglaterra foi vetada a instalação oficial dos comitês. Combater o comércio de escravos e o estabelecimento de estações de comércio em territórios não designados, alegavam especialistas legais, poderia levantar questões de direito de comércio e conflito de interesses. Assim, foi criada a Associação Internacional Africana (AIA), mais tarde o “africana” seria substituída por “Congo”, para a construção de benfeitorias, postos avançados de civilização, segundo o discurso oficial, ao longo do rio Congo e no interior do território, para abrigar quem estivesse interessado a participar do projeto. Stanley foi o grande articulador e artífice do negócio, contratado por Leopoldo.

“Abrir para a civilização a única parte do globo que ela ainda não penetrou, atravessar a escuridão na qual populações inteiras estão envolvidas”. Leopoldo II

Ao vislumbrar que a atuação dessa organização poderia se expandir além das suas fronteiras (mesmo que informais) e gerar conflitos entre as potências, por recomendação de Portugal, que se sentiu lesado pelo avanço da AIA em algumas áreas que lhe eram de direito, e a chancela da Alemanha de Bismarck, para resolver a questão foi organizada a Conferência da Berlim, no final de 1884, com o intuito de regular a exploração do continente e formalizar a atividade colonialista sob o ponto de vista legal e político. Foi, dessa maneira, oficializada a posse do Congo por Leopoldo II, cujo território tinha um potencial lucrativo indizível. “As Câmaras de Comércio das cidades britânicas, no início dos anos 1880, em plena depressão, ficaram indignadas só de pensar que as negociações diplomáticas podiam impedir o acesso de seus comerciantes à bacia do Congo, que se acreditava oferecer indizíveis perspectivas de vendas, ainda mais quando esta colônia estava sendo explorada por aquele homem de negócios coroado, o rei dos belgas, Leopoldo II, como um projeto lucrativo. (Seu método favorito de exploração, por meio do trabalho forçado, não visava incentivar elevadas compras per capita, quando não diminuir efetivamente o número de fregueses com a tortura e o massacre)”, escreve o historiador inglês Eric Hobsbawm, no A era dos impérios — 1875–1914.

Com o lucro da venda das matérias-primas, melhorias e obras públicas foram realizadas na capital da Bélgica

VIDAS POR BORRACHA: TERROR, LUCROS E IMPUNIDADE


Imagem de extração da seringueira no Brasil. Na África, florestas foram
devastadas e foi por meio de monopólios e concessões como a da empresa
Anglo-Belgian India-Rubber Company (de 1892), que o Congo foi explorado.

Até o boom mundial de comercialização da borracha, fortalecido pelo uso de pneus de ar comprimido em bicicletas e, posteriormente, nos carros (proporcionando mais conforto para os usuários, cujo invento foi patenteado, em 1891, por Édouard Michelin), o principal produto de exportação do Congo era o marfim. Outras aplicações da borracha, em cabos telefônicos e telegráficos e isolação, também contribuíram para o aumento da demanda. Assim, grandes extensões de florestas de vegetação tropical e plantações que proviam alimento para a população local foram devastadas. O monopólio para extração da borracha ficou por 30 anos nas mãos da empresa Anglo-Belgian India-Rubber Company (Abir), fundada em 1892. Foi por meio desses monopólios e concessões que o Congo foi explorado. Não pesava sobre os prepostos dessas empresas responsabilidades de Estado ou judiciais. Em 1890, o Congo tinha exportado 100 toneladas de borracha. As exportações aumentaram para 1,3 milhão de toneladas em 1896, 2 milhões em 1898 e, em 1901, esse número chegava a 6 milhões de toneladas. Dinheiro não faltava. Com o lucro da venda da matéria-prima, melhorias e obras públicas foram realizadas na capital da Bélgica, como a Árcade du Cinquantenaire e o Museu Tervuren, além de extensões do palácio real, embora o monarca afirmasse que não estaria se favorecendo com os negócios além-mar.


Pessoas mutiladas no Estado Livre do Congo – durante o
regime de Leopoldo II, estima-se a dizimação de 15 milhões.
Ao lado, selo postal com governantes de 1908 a 1958.

Com o aquecimento do mercado, outras regiões começaram a produzir borracha também. Países do sul da Ásia, o Brasil, inclusive, na região da Amazônia, ofereciam ao mercado, de forma abundante, cada vez mais borracha. A oferta do produto aumenta e as margens de lucro diminuem. A saída para manter a produção e lucros altos foi impor cotas diárias de extração dos produtos aos nativos coletores, cujo trabalho não era remunerado; no máximo, recebiam punhados de sal ou tecidos. Mulheres eram acorrentadas, crianças mortas a coronhadas. Para economizar munição e evitar que cartuchos fossem gastos sem sentido, na caça de animais, por exemplo, foi estimulado o corte das mãos para comprovar a morte de um nativo. A população foi reduzida, configurando um extermínio em massa. Estudiosos acreditam que a população do Congo foi dizimada, durante o regime de Leopoldo, em cerca de 15 milhões de pessoas.

A carnificina foi escamoteada por algum tempo, até que intelectuais, religiosos e políticos começaram a se manifestar. Em 1903, foi divulgado o diário do missionário batista A. E. Scrivener, que relata a sua experiência da seguinte maneira: “Tudo era em bases militares, mas, até onde pude ver, a única razão para isso era a borracha. Era o tema de toda conversação, e era evidente que o único modo de agradar aos seus superiores era aumentar a produção de alguma forma. Eu vi alguns homens entrarem, e o olhar assustado ainda persistente em suas faces conta eloqüentemente a época terrível que atravessaram. Da forma como foi trazido, cada homem tinha um cestinho contendo mais ou menos quatro ou 5 cinco libras de borracha. Isso era esvaziado em um cesto maior, pesado, e, se fosse suficiente, cada homem recebia uma xícara de sal bruto e para alguns capatazes uma braça de chita [...] Eu ouvi de alguns homens brancos e de alguns soldados as mais repulsivas histórias. O antigo homem branco (eu me sinto envergonhado de minha cor todas as vezes em que penso nele) se postava na porta do armazém para receber a borracha dos pobres-coitados trêmulos, que, depois de semanas de privações nas florestas, tinham ousado chegar com o que foram capazes de coletar. Quando um homem trazia menos que a porção apropriada, o homem branco encolerizava-se e, tomando um rifle de um dos guardas, fuzilava-o na hora. Raramente a quantidade de borracha aumentava, mas um ou mais eram fuzilados na porta do armazém ‘para fazer os sobreviventes trazerem mais na próxima vez’. Homens que tentavam fugir do país e tinham sido apanhados foram trazidos para a estação e enfileirados um atrás do outro, e uma bala de albini era disparada através deles. ‘Uma pena desperdiçar cartuchos nesses miseráveis’, dizia ele”.


Antigo cartão postal com fotografia do funeral de
Leopoldo II. Após a morte do monarca, ganhou força um
movimento de reforma do Congo, encabeçado por intelectuais
e escritores, contra as injustiças cometidas no país.

O ex-cônsul britânico no Congo, Roger Casement, em conjunto com o jornalista e político Edmund Dene Morel, fundaram a Associação de Reforma do Congo, com o objetivo de denunciar as injustiças cometidas naquela possessão particular. Diversos relatos foram publicados divulgando o horror, ações políticas foram articuladas para sensibilizar a opinião pública e impedir que o crime continuasse. Intelectuais e escritores participaram do movimento, como Mark Twain, que escreveu o texto satírico King Leopold’s Soliloquy — a defense of his Congo rule (“Solilóquio do rei Leopoldo — defesa do seu regime no Congo), e o criador do investigador Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle, com o seu Crime do Congo, de 1909, publicado um ano após a morte de Leopoldo, um documento panfletário que denuncia, de forma detalhada, o absurdo do Estado Livre do Congo.


Caricatura de Leopoldo II, rei dos belgas,
originalmente publicada na revista britânica Vanity Fair,
parte de uma série a respeito de soberanos, de 1869.

Apesar de toda a reação e pressão internacional para que o regime de espoliação da população do Congo acabasse, diante de evidências ainda tentavam acobertar a matança em um trabalho. Por exemplo, as punições severas com marcas de crueldade eram atribuídas aos nativos; os manetas teriam sido alvo de ataque de animais selvagens. Fotos começaram a ser divulgadas, e esconder e mentir não mais bastaria. “Leopoldo, autoproclamado rei soberano do Estado Livre do Congo, finalmente cedeu à disseminada pressão e condenação em novembro de 1908, quando a Bélgica formalmente assume o território. O rei dos belgas morreu um ano depois, mas não foi de maneira alguma afastado ou empobrecido pela vergonha do Congo. Na realidade, o governo belga deu ao monarca 2 milhões de libras em compensação aos seu ‘sacrifícios’; mais tarde, embora dissesse que nunca lucrou de forma particular do Congo, um depósito feito na Alemanha foi posteriormente descoberto — com 1,8 milhão de libras de lucros do Congo depositados”, escreve John Reader.

.:: Leituras da História
Origem histórica da segregação racial na África do Sul

O termo apartheid significa "separação" ou "identidade separada". Serviu para designar o regime político da África do Sul que, durante décadas, impôs a dominação da minoria branca (ou aristocracia branca) sobre grupos pertencentes a outras etnias, compostos em sua maioria por negros.
O apartheid não deve ser interpretado como simples "racismo", pois ele foi um sistema constitucional de segregação racial que abrangeu as esferas social, econômica e política da nação sul-africana estabelecendo critérios para diferenciar os grupos.

A origem histórica do apartheid é bem antiga e remonta ao período da colonização da África do Sul. Os primeiros colonizadores bôeres (também denominados de afrikaner) compunham-se de grupos sociais europeus que vieram da Holanda, França e Alemanha e se estabeleceram no país nos séculos 17 e 18.

Ideologia nacionalista

Esses colonizadores dizimaram as populações autóctones (grupos tribais indígenas) e tomaram suas terras. Os líderes afrikaners manipularam e converteram um preceito religioso cristão, que a princípio estabelecia a segregação como uma forma de defender e preservar as populações tribais da influência dos brancos, em uma ideologia nacionalista que pregava a desigualdade e separação racial.

Os afrikaners se consideravam a verdadeira e autêntica nação (ou volk, que em alemão significa povo). A cor e as características raciais determinaram o domínio da população branca sobre os demais grupos sociais e a imposição de uma estrutura de classe baseada no trabalho escravo.

Política racial

Nas regiões dominadas por eles estabeleceu-se uma política racial que diferenciou os europeus (população branca) dos africanos (que incluía todos os nativos não-brancos, também conhecidos por bantus). Até mesmo aqueles grupos sociais compostos por imigrantes asiáticos, em particular indianos, sofreram com a política de discriminação racial.

Seria engano supor que a expansão do domínio dos afrikaners sobre a população não-branca da África do Sul foi um processo livre de conflitos. Pelo contrário, houve muitas guerras com as populações tribais que ofereceram resistência aos brancos, entre elas as tribos xhosa, zulu e shoto.


Para uso de pessoas brancas, diz a placa da época do apartheid.

No início do século 20, a África do Sul atravessou um intenso processo de modernização que intensificou os conflitos entre brancos e não-brancos. Não obstante, a minoria branca soube explorar os conflitos intertribais que afloravam entre os diferentes grupos étnicos e isso de certo modo facilitou a avanço e domínio dos afrikaners.

Auge e declínio do regime do Apartheid sul-africano

O apartheid foi estabelecido oficialmente na África do Sul em 1948 pelo Nationalist Party (Partido dos Nacionalistas) que ascendeu ao poder e bloqueou a política integracionista que vinha sendo praticada pelo governo central.

O Nationalist Party representava os interesses das elites brancas, especificamente da minoria boere. Após 1948, o sistema de segregação racial atingiu o auge. Foram abolidos definitivamente alguns direitos políticos e sociais que ainda existiam em algumas províncias sul-africanas.

As diferenças raciais foram juridicamente codificadas de modo a classificar a população de acordo com o grupo social a que pertenciam. A segregação assumiu enorme extensão permeando todos os espaços e relações sociais. Os casamentos entre brancos e negros foram proibidos.

Os negros não podiam ocupar o mesmo transporte coletivo usado pelos brancos, não podiam residir no mesmo bairro e nem realizar o mesmo trabalho, entre outras restrições. Os brancos passaram a controlar cerca de 87% do território do país, o que sobrava se compunha de territórios independentes, mas paupérrimos, deixados aos grupos sociais não-brancos.

Declínio do apartheid

O apartheid é o único caso histórico de um sistema onde a segregação racial assumiu uma dimensão institucional. Essa situação permite definir o governo sul-africano como uma ditadura da raça branca.

Na década de 1970, o governo da África do Sul tentou em vão encontrar fórmulas que pudessem assegurar certa legitimidade internacional. Porém, tanto a ONU (Organização das Nações Unidas) como a Organização da Unidade Africana, votaram inúmeras resoluções condenando o regime.

No transcurso dos anos 70, a África do Sul presenciou inúmeras e violentas revoltas sociais promovidas pela maioria negra, mas duramente reprimidas pela elite branca. Sob o governo de linha dura, liderado por Peter. W. Botha (1985-1988), tentou-se eliminar os opositores brancos ao governo e as revoltas raciais foram duramente reprimidas.


Nelson Mandela.

Porém, as revoltas sociais se intensificaram bem como as pressões internacionais. Em 1989, Frederic. W. de Klerk, assumiu a presidência. Em 1990, o novo presidente conduz o regime sul-africano a uma mudança que põe fim ao apartheid. Neste mesmo ano, o líder negro Nelson Mandela, que desde 1964 cumpria pena de prisão perpétua, é posto em liberdade. Nas primeiras eleições livres, ocorridas em 1993, Mandela é eleito presidente da África do Sul e governa de 1994 a 1999.

.:: Uol Educação
Arte Rupestre no Saara

No sudeste do Deserto do Saara encontra-se um dos maiores acervos mundiais de arte rupestre. Desenvolvido pelas populações locais ao longo de sete milênios, essa arte testemunha a grande mudança climática ocorrida na região





Teremos descoberto a Atlântida enterrada?”, escreveu cheio de entusiasmo Henri Lhote em seu caderno de notas, em 1933. Ao tomar conhecimento do conteúdo do relatório de uma patrulha do exército francês na bacia do “oued” (curso d’água) Djerat, esse explorador e etnólogo francês correu para o sudeste do Saara argelino. O que deveria ser uma simples visita científica se converteu logo numa longa exploração arqueológica que durou 18 meses. O que Lhote descobriu nas montanhas de Tassili-n-Ajjer superou todas as suas expectativas: as paredes rochosas desse desfiladeiro de 30 quilômetros de extensão estavam literalmente cobertas de inscrições e, sobretudo, de pinturas rupestres.




Essas pinturas dão testemunho de um mundo único. Nelas, girafas, elefantes, antílopes, leões, bovídeos e cavalos narram a vida dos caçadores e dos pastores de outrora. Tais imagens documentam um Saara verdejante, cheio de vida animal e humana, antes que uma mudança radical do clima na região pusesse fim a um período de abundância sobre esse planalto de 700 quilômetros de extensão por 100 quilômetros de largura. É simplesmente impressionante o contraste entre o que se observa nessas pinturas e a paisagem de deserto árido na qual a região se tornou desde então.


Pintura rupestre do período das “cabeças redondas”
e pintura pertencente ao período “dos bovídeos”.

Lhote identificou quatro estilos sucessivos na execução dessas pinturas e inscrições, cujas datações e características foram depois aperfeiçoadas por outros especialistas. O primeiro período é o das “cabeças redondas”, caracterizado por desenhos inteiramente cor violeta de seres humanos nus, sem diferenciação de sexo. Após a descoberta de tons ocres, as pinturas se tornam mais detalhadas: já é possível distinguir-se a musculatura das pernas e dos braços. Pinturas e inscrições de animais como o búfalo gigante, já extinto, também se encontram entre esses primeiros trabalhos.


As formações geológicas do Parque Nacional Tassili-n-Ajjer
são de uma beleza impressionante, com suas imponentes
montanhas de arenito compondo verdadeiras “florestas” rochosas.


Beduínos contemporâneos e seus dromedários descansam
em pleno deserto esculpido por rochas do Tassili.

As primeiras populações de pastores sedentários do Tassili descobriram então novas cores. A mistura do vermelho e do branco com o ocre, já conhecido, possibilitou uma vasta paleta de nuances, do amarelo claro ao chocolate. Já as pinturas do “período dos bovídeos” correspondem à chegada de bovinos à África do Norte, ao redor de 4500 a.C., e que durou até meados do terceiro milênio antes de Cristo.

Nessa fase, as proporções da pessoa representada são bem exageradas: parece que o importante era o tamanho, e não a beleza. Ao mesmo tempo, homens e animais ganham em termos de realismo. Rebanhos e pastores parecem correr com a velocidade do vento. Perto dessas imagens, nas mesmas paredes de pedra, outras pinturas mostram homens que se banham nas águas de um rio.

O apaixonado Lhote

Durante os 16 meses em que durou sua expedição ao Tassili, Henri Lhote não limitou seu trabalho a simples levantamentos do material encontrado na área. Indo muito mais além, ele classificou as pinturas, estabeleceu grupos e conjuntos com características bem definidas, procurou atribuir a eles um lugar no tempo. Nasceu assim a primeira classificação das pinturas do Saara central, da qual as linhas principais se ajustam perfeitamente às classificações de arte rupestre estabelecidas por outros estudiosos como Flamand e Monod.

Os primeiros croquis das pinturas e inscrições rupestres do Tassili foram feitos, no fim da década de 1930, pelo tenente Brenans, eminente especialista em pré-história que acompanhou Lhote na região de Djanet. O sonho de ambos era tornar conhecidos no mundo os misteriosos desenhos do Tassili. Eles foram finalmente apresentados ao mundo científico no congresso de pré-história, realizado em Argel, em 1952.

Em 1956, o Museu do Homem, de Paris, na França, chamou Lhote para dirigir uma grande campanha destinada a inventariar o acervo rupestre do Tassili. A descoberta desses desenhos constitui o acontecimento mais importante no setor das pesquisas sobre pré-história naquela época.

A seguir, representações de cavalos mostram um progressivo desenvolvimento cultural dos habitantes do Tassili. É o “período dos cavalos”, que corresponde à introdução desses animais no norte da África, segundo atestam descobertas arqueológicas, em cerca de 2000 a.C.

Finalmente, ao redor dos anos em que Jesus Cristo viveu, tem início no Tassili um “período dos camelos”, também correspondendo aos tempos em que esses animais (na verdade dromedários) surgiram na África do Norte. Pouco a pouco, os dromedários se tornam os animais de carga por excelência na região, ao mesmo tempo que, curiosamente, a pintura rupestre perde sua importância na vida das comunidades humanas.




No Tassili, o período dos camelos assinala o retorno ao desenho rudimentar. As descrições de cenas do cotidiano tornam-se cada vez menos realistas. Ao mesmo tempo, as pinturas começam a apresentar outros elementos, tais como carruagens e escudos, além dos já citados dromedários.

Embora próxima da Península Ibérica – onde também há abundância de arte rupestre primitiva –, acredita-se que essa arte na Argélia e sobretudo no Tassili se desenvolveu de forma independente dos estilos da Europa.

Quanto às pinturas do período das “cabeças redondas”, Lhote observou um importante paralelo estilístico com os desenhos da antigüidade egípcia. Ele descobriu inclusive seis desenhos de barcos de um modelo de uso corrente no Nilo.

“Os pastores do Tassili mantinham uma relação com a civilização egípcia. Eles provavelmente vieram do leste e se fixaram aqui”, conclui o arqueólogo. Ao mesmo tempo, vários elementos de outros desenhos sugerem que parte dos habitantes do Tassili não era originária do Egito, e sim da África Negra.

“Não descobrimos a Atlântida”, admitiu Lhote ao final de sua viagem, “mas aprendemos algo muito mais importante. Podemos provar que o Saara central é, desde o Neolítico, um dos mais importantes sítios de colonização da pré-história. Há muito tempo, o deserto estava recoberto por gigantescos prados verdejantes e povoado por numerosas civilizações que nos deixaram o testemunho de sua existência.”

.:: Revista Planeta

domingo, 1 de agosto de 2010

Atividades afirmativas

Sugestão de atividades

Lucimar Rosa Dias, especialista em Educação e relações raciais, doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo e membro da Comissão Técnica Nacional de Diversidade para Assuntos Relacionados à Educação dos Afro-Brasileiros, do Ministério da Educação, e Waldete Tristão Farias Oliveira, coordenadora pedagógica do Centro de Educação Infantil Jardim Panamericano e formadora de professores, sugerem as seguintes atividades para promover ações afirmativas e combater o preconceito e a discriminação em sala de aula.

RODAS DE CONVERSA

Reunir os pequenos em uma roda abre espaço para conhecê-los melhor. Para entender as relações de preconceito e identidade, vale a pena apresentar revistas, jornais e livros para que as crianças se reconheçam (ou não) no material exposto. A roda é o lugar de propor projetos, discutir problemas e encontrar soluções. Também é o melhor espaço para debater os conflitos gerados por preconceitos quando eles ocorrerem. Nessa hora, não tema a conversa franca e o diálogo aberto.

CONTOS

A contação de histórias merece lugar de destaque na sala de aula. Ela é o veículo com o qual as crianças podem entrar em contato com um universo de lendas e mitos e enriquecer o repertório. Textos e imagens que valorizam o respeito às diferenças são sempre muito bem-vindos.

BONECOS NEGROS

As crianças criam laços com esses brinquedos e se reconhecem. É interessante associar esses bonecos ao cotidiano da escola e das próprias crianças, que podem se revezar para levá-los para casa. A presença de bonecos negros é sinal de que a escola reconhece a diversidade da sociedade brasileira. Caso não encontre bonecos industrializados, uma boa saída é confeccioná-los com a ajuda de familiares.

MÚSICA E ARTES PLÁSTICAS

A música desenvolve o senso crítico e prepara as crianças para outras atividades. Conhecer músicas em diferentes línguas, e de diferentes origens, é um bom caminho para estimular o respeito pelos diversos grupos humanos. E isso se aplica a todas as formas de Arte.

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0199/aberto/mt_215028.shtm

O Baobá

O Baobá de África é conhecida como a árvore de cabeça para baixo, uma antiga árvore da vida, o baobá é capaz de armazenar a água vital para a sobrevivência dos nômades local.

Uma das antigas árvores da África, o baobá (Adansonia digitata) é sinônimo de planície Africano; predominante em toda a África, Adansonia digitata também podem ser encontradas na ilha de Madagascar, onde outras espécies de árvore baobá crescer. Uma espécie da árvore baobá, Adansonia gregorii, só pode ser encontrada no norte da Austrália.

Características da Árvore Baobab Africano

Adansonia digitata é mais conhecido por seu tronco largo, em que ele pode armazenar água vital para salvar vidas, o baobá Africano é deciduous e alguns estão a ser dito milhares de anos. Produz grandes flores aromáticas até 7 cm de largura, a árvore do baobá da África também produz frutas, que pende dos galhos da árvore. A fruta da árvore baobá Africano é particularmente atraente para os babuínos, daí o seu apelido de pão-árvore macaco.

Como as lojas Baobá Água

A árvore baobá Africano é conhecido como a árvore da vida, é capaz de armazenar de poupança de água da vida durante a época seca, que é vital para o local povo nômade que não pode ter qualquer outro meio de obtenção de água. Grandes árvores baobab se diz conter mais de 30 mil litros de água, para aceder a esta água, os bosquímanos do Kalahari usar peças ocas de grama (muito parecido com um canudo) para sugar a água para fora.

O uso da árvore Baobab da Alimentação

A árvore baobá Africano é uma fonte vital de nutrição para muitas tribos locais, a fruta da árvore baobá contém polpa e as sementes que são comidos. A polpa pode também ser misturado com água e transformado em uma bebida, as sementes da árvore baobá pode ser consumido puro ou misturado com milho. As sementes também podem ser comercializados para a extração do óleo ou comida em uma pasta, mudas e folhas jovens são consumidos como aspargos ou são usadas em saladas.

Viver no tronco de uma árvore Baobab

O tronco oco da árvore do baobá (tanto envelhecido naturalmente ou através da intervenção humana) é um lugar onde os povos indígenas têm de grãos armazenados, água ou animais. O tamanho de algumas árvores baobá é tão grande que os nativos têm utilizado o oco do tronco de árvore baobá para se viver.

FONTE:http://ethnobotany.suite101.com/article.cfm/the_baobab_tree_of_africa Acessado em